Um sub-mundo pós-apocalíptico
Em 2013, o mundo foi quase que totalmente destruído por uma guerra
nuclear e uma boa parte da população de Moscou, sem ter onde se refugiar,
decide se mudar para o sistema de metrô da cidade e se desligar do resto do
mundo. Com o tempo, as estações se tornaram organizadas e independentes das
demais, como regiões autônomas ou mesmo países. Grupos organizados de homens
que faziam os trajetos entre estações reúnem-se em facções, a “Red Line” (Linha
Vermelha) e a “Fourth Reich” (Quarto Reich). Alguns preferem ser apenas
“Rangers”, patrulheiros solitários, e não pertencer a determinado grupo.
Estando num ambiente muito limitado, as forças da Red Line e Fourth Reich
entram em confronto permanente pelos recursos do sistema de metrô e sempre que
uma determinada estação se negava a se unir a um dos grupos dominantes, ela
acabava sendo saqueada pelos seus militantes, atacada por bandidos ou destruída
pelos “Dark Ones” (Os Obscuros), seres paranormais e mutantes, remanescentes
dos humanos que continuaram na superfície devastada. Ainda que a maior parte
das estações esteja sob o controle de um dos três grupos, ainda existem várias
estações abandonadas, algumas com governo tribal e independente e algumas
ocupadas pelos Dark Ones. É numa destas estações, neste mundo caótico, que a
ação de Metro 2033 se desenvolve.
Artyom, o protagonista da história é um jovem de vinte anos nascido antes
do holocausto nuclear ocorrido em 2013. Ainda bebê, ele foi salvo de uma horda
de ratos carnívoros por Sukhoi, um oficial militar. Os ratos, infelizmente,
mataram a mãe de Artyom e a muitos dos sobreviventes que estavam com ela. Ele
então é criado por Sukhoi como filho adotivo na estação de VDNKh, onde Sukhoi é
uma das autoridades.
A ação de Metro 2033 começa quando Artyom encontra um homem que chama a
si mesmo de “Hunter” – caçador – e que vai ser um personagem decisivo em sua
jornada. Hunter fica sabendo da expedição de Artyom ao Jardim Botânico e de
como ele teria colocado em jogo a segurança de sua própria estação.
Seguimos Artyom por um intricado sistema de túneis e passagens, um local
que parece não querer que as pessoas perambulem livremente. Ele está sempre na
escuridão cavernal, dependendo de lanternas ou do fogo. Precisa lidar com
perigos sem face, poderes sobrenaturais, e armadilhas espalhadas
cuidadosamente. Vê-se obrigado a trabalhar com companheiros que nem sempre o
ajudam como deveriam e alguns que querem mesmo matá-lo. Há também a constante
insuficiência de recursos básicos, como comida e munição.
Queremos saber o que vai acontecer a seguir, precisamos descobrir como
Artyom vai resolver os problemas que acaba enfrentando e temos de passar por
todas as agruras de sua aventura junto com ele. É assim, sentindo um aperto no
peito em todas as páginas do livro, que vamos descobrindo os mistérios de um
universo bastante apertado, mas nem por isso limitado. A apreensão – e uma
contínua sensação de falta de ar – acompanha o leitor, preso desde o início ao
enredo realista e por isso mesmo inescapável de Metro 2033.
A estrutura do livro é baseada no espaço delimitado do metrô moscovita,
perigos variados a rondar a todos, escassez de meios e escuridão. Trata-se de
uma obra que não repete velhas fórmulas, como temos visto muito frequentemente
nos últimos tempos. Nada de vampiros ou zumbis; nenhum vírus letal; alienígena
algum. A obra tem, sim, momentos de realismo mágico, perfeitamente encadeados
com a trama da jornada de Artyom pelos túneis claustrofóbicos e as criaturas
que parecem querer destruir a todos. No mais, o leitor astuto observará que o
autor deixou suas divagações sócio-político-econômicas bem delineadas, como
outros escritores, que não se preocupam apenas com a parte científica da ficção
de seus livros (Charles Stross, para citar um exemplo), costumam fazer.
Sucesso de vendas na Rússia e nos demais países europeus, Metro 2033
também foi sucesso de vendas nos Estados Unidos. Deu origem a muitas histórias
baseadas no universo em que Artyom e os demais personagens do livro vivem e
jogos de videogame.
Este livro escrito originalmente em russo no ano de 2005 por Dmitry
Glukhovsky é da boa vertente de obras pós-apocalípticas que não tentam dar
falsas esperanças de um futuro melhor ao leitor. Assim como títulos importantes
como “The Road”, de Cormac MacCarthy, Metro 2033 tem a elegância de não pender
nem para o pessimismo exacerbado e nem para a nostalgia do passado feliz.
Artyom vive no presente e é basicamente esse o foco de seu pensamento.
Dmitry Glukhovsky nos lembra que não lemos somente para adquirir conhecimento.
Isso é por demais simplista. Lemos porque precisamos nos aventurar e nos expor
a novas experiências para, mais do que tudo, padecer com o protagonista e,
junto com ele, nos libertar de tudo que nos oprime, seja lutando para vencer,
para perder ou apenas para sofrer.