quarta-feira, 17 de junho de 2015

Metrô 2033 - Dmitry Glukhovsky

Um sub-mundo pós-apocalíptico


Em 2013, o mundo foi quase que totalmente destruído por uma guerra nuclear e uma boa parte da população de Moscou, sem ter onde se refugiar, decide se mudar para o sistema de metrô da cidade e se desligar do resto do mundo. Com o tempo, as estações se tornaram organizadas e independentes das demais, como regiões autônomas ou mesmo países. Grupos organizados de homens que faziam os trajetos entre estações reúnem-se em facções, a “Red Line” (Linha Vermelha) e a “Fourth Reich” (Quarto Reich). Alguns preferem ser apenas “Rangers”, patrulheiros solitários, e não pertencer a determinado grupo. Estando num ambiente muito limitado, as forças da Red Line e Fourth Reich entram em confronto permanente pelos recursos do sistema de metrô e sempre que uma determinada estação se negava a se unir a um dos grupos dominantes, ela acabava sendo saqueada pelos seus militantes, atacada por bandidos ou destruída pelos “Dark Ones” (Os Obscuros), seres paranormais e mutantes, remanescentes dos humanos que continuaram na superfície devastada. Ainda que a maior parte das estações esteja sob o controle de um dos três grupos, ainda existem várias estações abandonadas, algumas com governo tribal e independente e algumas ocupadas pelos Dark Ones. É numa destas estações, neste mundo caótico, que a ação de Metro 2033 se desenvolve.




Artyom, o protagonista da história é um jovem de vinte anos nascido antes do holocausto nuclear ocorrido em 2013. Ainda bebê, ele foi salvo de uma horda de ratos carnívoros por Sukhoi, um oficial militar. Os ratos, infelizmente, mataram a mãe de Artyom e a muitos dos sobreviventes que estavam com ela. Ele então é criado por Sukhoi como filho adotivo na estação de VDNKh, onde Sukhoi é uma das autoridades.
A ação de Metro 2033 começa quando Artyom encontra um homem que chama a si mesmo de “Hunter” – caçador – e que vai ser um personagem decisivo em sua jornada. Hunter fica sabendo da expedição de Artyom ao Jardim Botânico e de como ele teria colocado em jogo a segurança de sua própria estação.
Seguimos Artyom por um intricado sistema de túneis e passagens, um local que parece não querer que as pessoas perambulem livremente. Ele está sempre na escuridão cavernal, dependendo de lanternas ou do fogo. Precisa lidar com perigos sem face, poderes sobrenaturais, e armadilhas espalhadas cuidadosamente. Vê-se obrigado a trabalhar com companheiros que nem sempre o ajudam como deveriam e alguns que querem mesmo matá-lo. Há também a constante insuficiência de recursos básicos, como comida e munição.
Queremos saber o que vai acontecer a seguir, precisamos descobrir como Artyom vai resolver os problemas que acaba enfrentando e temos de passar por todas as agruras de sua aventura junto com ele. É assim, sentindo um aperto no peito em todas as páginas do livro, que vamos descobrindo os mistérios de um universo bastante apertado, mas nem por isso limitado. A apreensão – e uma contínua sensação de falta de ar – acompanha o leitor, preso desde o início ao enredo realista e por isso mesmo inescapável de Metro 2033.
A estrutura do livro é baseada no espaço delimitado do metrô moscovita, perigos variados a rondar a todos, escassez de meios e escuridão. Trata-se de uma obra que não repete velhas fórmulas, como temos visto muito frequentemente nos últimos tempos. Nada de vampiros ou zumbis; nenhum vírus letal; alienígena algum. A obra tem, sim, momentos de realismo mágico, perfeitamente encadeados com a trama da jornada de Artyom pelos túneis claustrofóbicos e as criaturas que parecem querer destruir a todos. No mais, o leitor astuto observará que o autor deixou suas divagações sócio-político-econômicas bem delineadas, como outros escritores, que não se preocupam apenas com a parte científica da ficção de seus livros (Charles Stross, para citar um exemplo), costumam fazer.
Sucesso de vendas na Rússia e nos demais países europeus, Metro 2033 também foi sucesso de vendas nos Estados Unidos. Deu origem a muitas histórias baseadas no universo em que Artyom e os demais personagens do livro vivem e jogos de videogame.
Este livro escrito originalmente em russo no ano de 2005 por Dmitry Glukhovsky é da boa vertente de obras pós-apocalípticas que não tentam dar falsas esperanças de um futuro melhor ao leitor. Assim como títulos importantes como “The Road”, de Cormac MacCarthy, Metro 2033 tem a elegância de não pender nem para o pessimismo exacerbado e nem para a nostalgia do passado feliz. Artyom vive no presente e é basicamente esse o foco de seu pensamento.
Dmitry Glukhovsky nos lembra que não lemos somente para adquirir conhecimento. Isso é por demais simplista. Lemos porque precisamos nos aventurar e nos expor a novas experiências para, mais do que tudo, padecer com o protagonista e, junto com ele, nos libertar de tudo que nos oprime, seja lutando para vencer, para perder ou apenas para sofrer.   



Ricardo Machado 18/07/2015 (lido em inglês)